sexta-feira, 11 de novembro de 2011

JIN , Shari e Uro: Testemunhas do Tempo

Jin, Shari e Uro : Testemunhas do Tempo




Galera do bonsai, em pesquisas sobre bonsais, achei uma matéria muito bem feita no arte bonsai e resolvi colocar aqui no blog, uma vez  que a matéria é excelente, confiram!!!!!








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             Os trabalhos de madeira morta têm como objetivo principal adicionar características de idade ao bonsai. Árvores centenárias normalmente tem marcas e cicatrizes das adversidades a que foram submetidas durante a sua longa existência, especialmente nas espécies que originalmente crescem em regiões de extremos climáticos.






Ventos fortes e constantes, grandes nevascas, baixa umidade, solo pobre provocam um crescimento sofrido, com perda de partes da árvore à medida que os anos avançam. Em algumas regiões, as ocorrências periódicas de anos mais difíceis causam extensas lesões que a árvore insiste em recuperar. Outras vezes abandona a área fortemente lesada e toma um caminho um pouco menos penoso para continuar o crescimento.

Toda esta variabilidade de condições, com intensidade e ocorrência também variáveis, provocam áreas mortas e cicatrizes, com formas e texturas diversas que, apesar de serem testemunhas de um grande sofrimento, nos impressionam pela grande beleza e pela sensação de grande vigor na luta constante em manter-se viva.

A beleza destas marcas reside em sua relativa irregularidade e casualidade que derivam, além da variedade de situações adversas, da natureza da formação da madeira.



Os ciclos climáticos anuais promovem diferentes taxas decrescimento. Desta forma a madeira formada em um período de crescimento acelerado tem estrutura e dureza diferentes da formada em um período de crescimento mais lento. Quando uma área morre e o cerne fica exposto, a madeira se fragmenta e degrada de forma irregular, tanto pela variabilidade das ações climáticas tanto pelas diferenças em sua resistência.

Para reproduzirmos estas “cicatrizes” em nossos bonsai, adicionando desta forma a aparência de mais idade, precisamos agir na madeira criando padrões irregulares de desgaste, mas conhecendo e respeitando as características da madeira. Devemos observar e agir nos sulcos e nas áreas de surgimento de novos galhos de formas diferentes, criando uma textura evidente, mas suave.







Cada espécie de árvore tem uma madeira de dureza e velocidade de degradação diferente. Assim é mais fácil de se encontrar NA NATUREZA, este ou aquele tipo de madeira morta, nesta ou naquela espécie, especialmente nas de clima tropical.


Mas este fato não deve ser tomado como proibitivo na realização de trabalhos em madeira morta em qualquer espécie de árvore utilizada no bonsai, uma vez que estamos representando árvores centenárias e muitas vezes gigantescas, em tamanho reduzido.


Um Jin apical na natureza de alguns metros de diâmetro ou um galho da grossura de um tórax de um homem levam décadas para desaparecer mesmo nas madeiras de degradação mais rápida como a da maioria das coníferas.



Mas se a madeira das coníferas tem degradação rápida, por quê os jin e shari são mais comumente encontrados e utilizados nestas espécies, especialmente os Juniperus? As razões são várias:

As coníferas ocorrem naturalmente em regiões de clima adverso, estando portanto mais suscetíveis a perdas de galhos e grandes áreas do tronco.

Nestas áreas, a degradação da parte morta ocorre pela ação de ventos fortes que lançam partículas na madeira exposta, causando sua lenta esfoliação. Entretanto, esta mesma ação que desgasta também protege, mantendo a madeira limpa e impedindo uma ação mais efetiva de microorganismos que provocariam sua degradação mais rápida. Por este motivo, a madeira dos maravilhosos Juníperus oriundos de yamadori, precisa ser cuidada para que dure no bonsai tanto quanto duraria na natureza, na sua região original de ocorrência.

Em outra situação, poderemos algumas vezes utilizar uma espécie de folha menor para representar uma árvore de uma espécie semelhante de folha maior, para um efeito mais natural. Poderá ser preciso adicionar características de madeira morta comuns na espécie que representamos, mas menos comuns na espécie cultivada. Explícito ou não a pouca ocorrência destas características em determinada espécie não deve ser utilizada como empecilho na sua representação em nossos bonsai, desde que utilizadas com bom senso e condizentes com o estilo escolhido.

O mais importante é o conhecimento do comportamento da madeira para que o resultado final passe a impressão de uma ocorrência natural.













O bonsai nos conta uma história: Juniperus rígida em estilo fukinagashi ou varrido pelo vento.





“A árvore cresce onde existe um vento relativamente forte e constante que sopra durante todo o ano em uma única direção. Robusta, durante alguns anos consegue crescer razoavelmente ereta e enviar galhos em todas as direções mas os que tentam crescer contra o vento desenvolvem-se pouco. Em um determinado ano, uma forte tempestade quase arranca a árvore do solo. As raízes de um lado ficam expostas provocando a morte de toda a área correspondente.





Com o passar dos anos o vento lança detritos, desgastando e polindo. São formados orifícios e grandes sulcos sinuosos, polidos mas levemente texturizados pelo desgaste irregular dos pequenos veios.










A madeira ressecada trinca seguindo o mesmo padrão. O aspecto é fantástico, especialmente pelo contraste criado com a parte viva que teimosamente insiste em crescer.”

Mesmo tratanto-se de uma estória, pois o bonsai foi artificial e integramente criado pelas mãos do artista Fernando Magalhães, poderia facilmente ser uma história real de uma heróica árvore centenária, como muitas que crescem em condições adversas.

Muitas vezes de forma inconsciente, é pensando em contar uma história verossímil que o artista conseguirá criar artificialmente belos trabalhos de madeira morta de aspecto extremamente natural. Logicamente o tempo é um excelente aliado, mas a utilização moderada dos agentes de preservação, permitindo alguma ação de degradação, acelera a formação dos aspectos sutis de envelhecimento que promovem uma maior aparência de naturalidade no trabalho final.














Nesta outra composição a história é um pouco diferente:

“Uma árvore centenária que crescia numa condição razoável sofreu em uma situação extrema incomum, causada talvez por um período anormal de escassez de água, nevasca ou mesmo doença.

Quase toda a árvore foi perdida. Um galho entretanto, resistiu e ao longo dos anos formou uma nova copa, que novamente mostra sinais de que os anos já passaram.”
Em conformidade com as condições em que cresce, a degradação da madeira ocorre principalmente por agentes mais agressivos como microorganismos e insetos.




Desta forma o desgaste é mais marcado, formando sulcos profundos e cantos mais vivos. Não existe polimento, a madeira exposta não é tão branca e a texturização é mais marcada.

Neste bonsai reestilizado por David Yamamoto, o trabalho recente ainda precisa de alguma ação de suavização tanto realizada pelo artista quanto pela ação natural.
A madeira secará e trincará, fragmentos serão removidos e as arestas ficarão mais suaves, criando a aparência de ação do tempo.












Uma das espécies nativas em que é maior a ocorrência natural de madeira morta, esta árvore, que pode crescer como trepadeira buscando apoio nas fazes iniciais de crescimento, apresenta naturalmente grandes ocos (uro) em exemplares de todas as idades.


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Por possuir uma madeira muito macia e de apodrecimento rápido, tem o trabalho de uro combatido por alguns bonsaístas baseados nesta característica, que contraditoriamente é justamente a que permite a ocorrência do uro.

Foi determinado através de pesquisas que a Bougainvillea secreta uma substância protetora que impede o apodrecimento da área morta a uma distância segura da parte viva, não permitindo o comprometimento da estrutura da árvore. Logicamente, em nossos bonsai precisamos proteger adequadamente a madeira, pois a exposição a agentes aceleradores, especialmente a água, é muito maior que em uma condição natural.







Este bonsai do artista Fernando Magalhães, tem este grande uro imutável a pelo menos 8 anos. A madeira foi metodicamente tratada durante os primeiros anos mas já faz algum tempo que nenhum produto é utilizado, proporcionando este aspecto natural.








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Outra nativa com grande aptidão para trabalhos de madeira morta, o Pitecelobium produz naturalmete grandes jin e shari, que contrastam com a maravilhosa madeira.


Crescendo em condições adversas, freqüentemente perde grandes áreas de tronco e galhos. Ao contrário da Bougainvillea, sua madeira bastante resistente não apresenta grandes problemas de manutenção no bonsai.

Neste caso uma madeira menos tratada e com menos sinais da ação de agentes de degradação, confere uma aparência mais natural à composição.










Observando sempre a obtenção da naturalidade na representação artística, os elementos de jin, shari e uro, serão excelentes aliados na caracterização de idade avançada no trabalho do bonsai, inclusive em várias de nossas nativas.


Créditos a www.artebonsai.com.br.


Um comentário:

  1. Muito bom Douglas!!!
    Sempre adimirei muito belos trabalhos de Jin, Shari e Uro como os apresentados no seu post.
    E como diz a matéria, eles contam uma história que particulariza a árvore e o trabalho!!!
    Parabens e Hapki!

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